Projeto de manejo sustentável em Alta Floresta (MT) é encabeçado pelo empresário e médico veterinário Luis Fernando Laranja
Quando Luis Fernando Laranja morou, na Floresta Amazônica, há mais de 20 anos, ele não imaginava que voltaria para empreender e criar um núcleo de experimentação de manejo sustentável em Mato Grosso. Mas foi justamente isso que aconteceu: com uma equipe multidisciplinar, ele encabeça o projeto que nasceu na ECOPEC para testar sistemas integrados de pecuária de corte que futuramente podem ser utilizados por pequenos e médios produtores do Estado.
A região em que Laranja trabalha está em Alta Floresta, localizada ao norte de Mato Grosso. As atividades do projeto são desempenhadas em uma fazenda de 5 mil hectares, onde há 600 hectares de pastagem e o restante de reserva florestal. O projeto é fomentado por investimentos do Fundo VALE e começou a ser desenhado durante a pandemia de covid-19, em 2020.
Com uma veia ambientalista que surgiu durante a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Laranja trabalha atualmente com o desenvolvimento de modelos de produção de proteínas animais com sistemas integrados, como a técnica de lavoura-pecuária-floresta. “Energia e uso da terra são os dois principais pontos da agenda climática e ambiental. Por isso, precisamos pensar em novas formas de produzir, frangos, suínos e gado de corte de uma outra maneira se quisermos fazer a diferença e não ser parte do problema”, disse.
Neste ano, a VERT teve a oportunidade de visitar o projeto desempenhado por Laranja em Mato Grosso. Segundo Martha De Sá, uma das sócias-fundadoras da empresa, a experiência foi muito gratificante por se tratar de um projeto de manejo sustentável em um dos maiores e mais importantes biomas do país: a Floresta Amazônica. “A lição de casa que fica dessa viagem é pensar na importância de levar esse tipo de manejo para os produtores, para que isso se torne cada vez mais mainstream — habitual — e menos um conhecimento de nicho. Para isso, é necessário conhecimento e assistência técnica para que os produtores tenham segurança na hora de fazer essa transição. Com isso, também deve crescer o interesse de investidores em realizar investimentos de impacto como um todo”, frisou.
A visita fez parte da iniciativa Finanças Inovadoras para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, na sigla em inglês), criada pelas organizações The Nature Conservancy (TNC), Tropical Forest Alliance (TFA) e pelo Programa Ambiental da ONU (Unep) da qual a VERT e a DuAgro são signatárias. Esse projeto visa tornar disponíveis recursos para investimentos de US$ 3 bilhões na produção de soja e na criação de gado livres de desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Chaco.
Além da VERT e da DuAgro, assinaram o compromisso o fundo de impacto holandês &Green Fund, o fundo AGRI3, o Grupo Gaia, a gestora JGP Asset Management, a empresa de insumos Syngenta e a consultoria Sustainable Investment Management (SIM).
A Syngenta informou, em nota, que assumiu o compromisso de reverter 1 milhão de hectares em áreas produtivas, em até 5 anos. “Nós, da Syngenta, entendemos e assumimos nosso papel na evolução de uma agricultura cada vez mais positiva, que tem na saúde do solo seu pilar essencial. Para que tenhamos sucesso é essencial o envolvimento e esforço em conjunto de iniciativas privadas, públicas e principalmente do setor financeiro”.
Laranja começou a empreender relacionando temas ligados à sustentabilidade com a Ouro Verde Amazônia, uma empresa de processamento de castanha-do-pará. Em 2011, ele criou a Kaeté Investimentos, onde estruturou o primeiro fundo de investimentos de impacto focado na Amazônia com um total de R$ 100 milhões. Foram analisados 210 empreendimentos amazônicos e realizados investimentos em 3 deles.
Além da pecuária, Laranja vem trabalhando com a neutralização dos gases de efeito estufa da produção de leite de sua empresa localizada em São Paulo, a NoCarbon Mil. A ideia é plantar um hectare de floresta nativa a cada três meses. Ele disse que também vem testando, juntamente com a equipe do projeto, a produção de diferentes espécies florestais em rotação com a produção de hortifrutis, — abacate e cacau foram algumas das culturas já testadas. No futuro, o projeto também deve contar com agricultores familiares para a produção de bezerros.
Flávio Wruck, agrônomo e pesquisador da Embrapa, explica que a técnica de lavoura-pecuária ainda enfrenta dificuldades para ser implementada, principalmente o recorte é feito para pequenos e médios produtores rurais. “Essa é uma técnica que depende de investimento e leva tempo, em torno de 3 anos para se ter uma ideia”, disse.
Mesmo com o crescimento da agenda ESG no país, a realidade no campo ainda é dispare. Apenas em 2021 foram desmatados 10.362 km² de floresta amazônica, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a região por meio de imagens de satélites.
Em comparação a 2020, ano em que o desmatamento na Amazônia havia ocupado a maior área desde 2012, com 8.096 km² de floresta destruídos, a devastação em 2021 cresceu 29%. Em relação às áreas protegidas, foram devastados 507 km² de mata nativa no ano passado, 10% a mais do que no ano anterior.
Uma saída possível para tornar a produção agropecuária mais sustentável é o crescimento de investimentos com propósito, conhecido como Investimentos de Impacto. Para Laranja, o interesse pela agenda ESG vem crescendo, mas ainda muito distante da necessidade e do potencial que o Brasil tem como um grande produtor mundial de commodities agrícolas.
“Dependendo do lugar eu vejo um copo meio vazio e ora meio cheio. Há 20 anos toda essa discussão era muito embrionária. Hoje eu vejo que esse assunto virou moda, mas ainda há muito potencial a ser explorado. Daqui 10 anos, eu espero, teremos muita conversa e muito investimento”, analisa Laranja.
De acordo com dados divulgados pela Aspen Networks Development Entrepreneurs (Ande), os investimentos em negócios de impacto feitos no Brasil somaram cerca de R$ 1 bilhão em 2020. Para o ano seguinte, a expectativa era de um crescimento de 38% nos recursos, podendo atingir um total sob gestão de R$ 6,1 bilhões.
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