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ESG Agronegócio

02/06/2022

Manejo sustentável: Projeto no coração da Floresta Amazônica mostra saídas possíveis

Projeto de manejo sustentável em Alta Floresta (MT) é encabeçado pelo empresário e médico veterinário Luis Fernando Laranja

Naiara Albuquerque
Jornalista na VERT Capital

Quando Luis Fernando Laranja morou, na Floresta Amazônica, há mais de 20 anos, ele não imaginava que voltaria para empreender e criar um núcleo de experimentação de manejo sustentável em Mato Grosso. Mas foi justamente isso que aconteceu: com uma equipe multidisciplinar, ele encabeça o projeto que nasceu na ECOPEC para testar sistemas integrados de pecuária de corte que futuramente podem ser utilizados por pequenos e médios produtores do Estado.

A região em que Laranja trabalha está em Alta Floresta, localizada ao norte de Mato Grosso. As atividades do projeto são desempenhadas em uma fazenda de 5 mil hectares, onde há 600 hectares de pastagem e o restante de reserva florestal. O projeto é fomentado por investimentos do Fundo VALE e começou a ser desenhado durante a pandemia de covid-19, em 2020.

Com uma veia ambientalista que surgiu durante a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Laranja trabalha atualmente com o desenvolvimento de modelos de produção de proteínas animais com sistemas integrados, como a técnica de lavoura-pecuária-floresta. “Energia e uso da terra são os dois principais pontos da agenda climática e ambiental. Por isso, precisamos pensar em novas formas de produzir, frangos, suínos e gado de corte de uma outra maneira se quisermos fazer a diferença e não ser parte do problema”, disse.

Neste ano, a VERT teve a oportunidade de visitar o projeto desempenhado por Laranja em Mato Grosso. Segundo Martha De Sá, uma das sócias-fundadoras da empresa, a experiência foi muito gratificante por se tratar de um projeto de manejo sustentável em um dos maiores e mais importantes biomas do país: a Floresta Amazônica. “A lição de casa que fica dessa viagem é pensar na importância de levar esse tipo de manejo para os produtores, para que isso se torne cada vez mais mainstream — habitual — e menos um conhecimento de nicho. Para isso, é necessário conhecimento e assistência técnica para que os produtores tenham segurança na hora de fazer essa transição. Com isso, também deve crescer o interesse de investidores em realizar investimentos de impacto como um todo”, frisou.

A visita fez parte da iniciativa Finanças Inovadoras para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, na sigla em inglês), criada pelas organizações The Nature Conservancy (TNC), Tropical Forest Alliance (TFA) e pelo Programa Ambiental da ONU (Unep) da qual a VERT e a DuAgro são signatárias. Esse projeto visa tornar disponíveis recursos para investimentos de US$ 3 bilhões na produção de soja e na criação de gado livres de desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Chaco.

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Visita do IFACC ao projeto desenvolvido pela equipe de Luis Laranja em Alta Floresta, no Mato Grosso

Além da VERT e da DuAgro, assinaram o compromisso o fundo de impacto holandês &Green Fund, o fundo AGRI3, o Grupo Gaia, a gestora JGP Asset Management, a empresa de insumos Syngenta e a consultoria Sustainable Investment Management (SIM).

A Syngenta informou, em nota, que assumiu o compromisso de reverter 1 milhão de hectares em áreas produtivas, em até 5 anos. “Nós, da Syngenta, entendemos e assumimos nosso papel na evolução de uma agricultura cada vez mais positiva, que tem na saúde do solo seu pilar essencial. Para que tenhamos sucesso é essencial o envolvimento e esforço em conjunto de iniciativas privadas, públicas e principalmente do setor financeiro”.

Como o projeto começou 

Laranja começou a empreender relacionando temas ligados à sustentabilidade com a Ouro Verde Amazônia, uma empresa de processamento de castanha-do-pará. Em 2011, ele criou a Kaeté Investimentos, onde estruturou o primeiro fundo de investimentos de impacto focado na Amazônia com um total de R$ 100 milhões. Foram analisados 210 empreendimentos amazônicos e realizados investimentos em 3 deles.

Além da pecuária, Laranja vem trabalhando com a neutralização dos gases de efeito estufa da produção de leite de sua empresa localizada em São Paulo, a NoCarbon Mil. A ideia é plantar um hectare de floresta nativa a cada três meses. Ele disse que também vem testando, juntamente com a equipe do projeto, a produção de diferentes espécies florestais em rotação com a produção de hortifrutis, — abacate e cacau foram algumas das culturas já testadas. No futuro, o projeto também deve contar com agricultores familiares para a produção de bezerros.

Flávio Wruck, agrônomo e pesquisador da Embrapa, explica que a técnica de lavoura-pecuária ainda enfrenta dificuldades para ser implementada, principalmente o recorte é feito para pequenos e médios produtores rurais. “Essa é uma técnica que depende de investimento e leva tempo, em torno de 3 anos para se ter uma ideia”, disse.

Mesmo com o crescimento da agenda ESG no país, a realidade no campo ainda é dispare. Apenas em 2021 foram desmatados 10.362 km² de floresta amazônica, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a região por meio de imagens de satélites.

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Em comparação a 2020, ano em que o desmatamento na Amazônia havia ocupado a maior área desde 2012, com 8.096 km² de floresta destruídos, a devastação em 2021 cresceu 29%. Em relação às áreas protegidas, foram devastados 507 km² de mata nativa no ano passado, 10% a mais do que no ano anterior.

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Uma luz no fim do túnel: Investimentos de impacto

Uma saída possível para tornar a produção agropecuária mais sustentável é o crescimento de investimentos com propósito, conhecido como Investimentos de Impacto. Para Laranja, o interesse pela agenda ESG vem crescendo, mas ainda muito distante da necessidade e do potencial que o Brasil tem como um grande produtor mundial de commodities agrícolas.

“Dependendo do lugar eu vejo um copo meio vazio e ora meio cheio. Há 20 anos toda essa discussão era muito embrionária. Hoje eu vejo que esse assunto virou moda, mas ainda há muito potencial a ser explorado. Daqui 10 anos, eu espero, teremos muita conversa e muito investimento”, analisa Laranja.

De acordo com dados divulgados pela Aspen Networks Development Entrepreneurs (Ande), os investimentos em negócios de impacto feitos no Brasil somaram cerca de R$ 1 bilhão em 2020. Para o ano seguinte, a expectativa era de um crescimento de 38% nos recursos, podendo atingir um total sob gestão de R$ 6,1 bilhões.

Hashtags: manejo sustentável; agro, sustentabilidade, lavoura, pecuária

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