Voltar
VERT Explica ESG

19/10/2022

O que você precisa saber sobre o mercado de carbono

Saiba como funciona uma das principais iniciativas da agenda ESG

Marlana Zanatta Rodrigues
Jornalista na VERT Capital

O mercado de carbono é um tema que está em destaque no Brasil e no mundo e, para contribuir no entendimento do assunto, trouxemos um contexto que pode auxiliar na visualização de como essa iniciativa propõe uma união entre a agenda econômica e a agenda ambiental.

Como funciona o mercado de carbono?

O mercado de carbono é um sistema criado para incentivar a diminuição e compensação das emissões de gases do efeito estufa (GEE) — dióxido de carbono (CO2); Metano (CH4); e Óxido Nitroso (N2O).

Na prática, o governo cria um Sistema de Comércio de Emissões (SCE) e, por meio desse plano, define setores da economia que terão um limite de emissões e qual será esse limite.

Empresas que conseguem diminuir as emissões para além das metas podem transformar o excedente em créditos e vender para companhias que não alcançaram a meta integral. Para precificar o ativo é utilizada a tonelada de carbono como medida de referência.

Dessa forma, ambos os agentes saem ganhando. A empresa que conseguiu diminuir suas emissões de gases do efeito estufa ganha uma espécie de gratificação e a companhia que compra os créditos consegue bater a meta, mas gastando um valor para isso. O mesmo tipo de negociação funciona quando o objetivo é estabelecido a nível de nações.

A lógica é incentivar setores da economia a se descarbonizarem, de forma que, iniciativa pública e privada colaborem com a agenda ambiental e, por consequência, auxiliem no desenvolvimento econômico do país, avançando para o alcance do objetivo central: uma economia de baixo carbono.

Para assegurar a efetividade do Sistema de Comércio de Emissões, as empresas dos setores obrigatórios devem monitorar e relatar suas emissões a uma autoridade oficial. Esses relatórios devem ser verificados por uma entidade independente para garantir que os dados apresentados são reais.

Diferença entre mercado regulado de carbono e mercado voluntário de carbono

No mercado regulado de carbono, as Reduções Certificadas de Emissões (CERs) estão atreladas a precificação, impostos e metas obrigatórias estipuladas pelo governo. Essas metas são convertidas em permissões — o quanto cada empresa pode poluir — que são direcionadas a setores específicos da economia. Caso uma companhia ultrapasse o teto, ela poderá comprar permissões (os créditos de carbono) de outra empresa que emitiu menos que a cota estabelecida pelo governo.

Já no mercado voluntário, o setor privado pode reduzir suas emissões de gases do efeito estufa de forma espontânea. Mas, nessa situação, é necessário seguir os padrões de certificações independentes, como a Verra — instituição que certifica e registra os créditos de carbono transacionados no mercado voluntário.

Normalmente, as companhias que participam do mercado voluntário o fazem não apenas para atingir seus compromissos com Net Zero, mas também para alcançar maior visibilidade e melhorar sua reputação ao mostrar comprometimento com questões ASG (Ambiental, Social e Governança Corporativa).

Como surgiu o mercado de crédito de carbono?

O primeiro acordo mundial para controle das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) aconteceu em 1997, na Conferência das Nações Unidas (COP3), no Japão. No evento, foi criado o Protocolo de Kyoto, um tratado ambiental cujo objetivo era estabelecer iniciativas que visassem a contenção das mudanças climáticas.

Entre as propostas, podemos destacar duas que possuem relação com a pauta: a possibilidade de nações que não conseguiram cumprir a meta de descarbonização comprarem créditos de outros países que superaram a meta; e a criação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Assim surgiu a “moeda verde” ou crédito de carbono.

Apesar de ter sido desenhado em 1997, o Protocolo de Kyoto passou a valer apenas em fevereiro de 2005. No acordo, os países signatários se comprometeram a reduzir 5,2% de suas emissões de GEE, entre os anos de 2008 e 2012, tendo como base os dados captados em 1990.

O saldo final do tratado não foi tão positivo quanto o esperado, visto que a maioria dos países não cumpriram o objetivo. No entanto, o evento abriu portas para que a discussão sobre as mudanças climáticas tomasse maiores proporções. Em 2015 aconteceu a COP21, Conferência onde 195 países assinaram o Acordo de Paris — tratado responsável pela criação do Artigo 6, que propõe a regulamentação do mercado internacional de carbono. E pela determinação da meta de limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC e evitar que ultrapasse 2°C até 2100.

Mercado de carbono no Brasil

O Brasil é um dos países com maior potencial de protagonismo no mercado de crédito de carbono. De acordo com estudo da consultoria Way Carbon e do ICC Brasil, o país tem capacidade para gerar mais de US$ 100 bilhões até 2030. No entanto, a falta de um ambiente de segurança jurídica é um dos impeditivos para que avance na pauta.

Nações com políticas governamentais bem definidas sobre o mercado de carbono estão à frente daqueles que utilizam apenas o mercado voluntário, temos como exemplo: Estados Unidos, Japão, Canadá e países da União Europeia.

O Brasil já começou a avançar na agenda da construção de uma legislação que incentiva a redução dos gases de efeito estufa. Em maio de 2022, o executivo aprovou o decreto n.º 11.075/2022 que entra na esteira de iniciativas que culminam nesse objetivo.

Para que um mercado regulado de carbono seja criado, ainda é necessária a determinação de metas claras e a criação de um sistema de monitoramento. Essa maturidade poderá ser alcançada a partir da aprovação do PL 528/2021, que institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), lei que servirá para regular a compra e venda de créditos de carbono no país. O projeto apresentado em fevereiro de 2021 segue em tramitação na Câmara dos Deputados.

No entanto, o mercado regulado não tira o mérito do mercado voluntário, empresas nacionais já estão engajadas há anos nessa modalidade de compensação. De acordo com a consultoria norte-americana McKinsey, “a demanda por crédito de carbono voluntário no Brasil deve chegar a 7 milhões de toneladas de CO2eq (equivalente de dióxido de carbono) em 2030, o que representaria aproximadamente USD 200 milhões”. Conforme novos compromissos são anunciados, os números tendem a crescer e o país avançar cada vez mais na jornada de descarbonização.

Hashtags: ESG, crédito de carbono, mercado de carbono

Achou esse conteúdo útil?

Confira outras notícias e novidades